
Esta é uma apresentação feita por Jim Richardson o fundador do MuseumNext na British Council Digital Creative Conference, em Tóquio. (Também está disponível em Japonês aqui.)
Saber como as instituições artísticas no Reino Unido estão a responder às mudanças de expectativas das suas audiências através do seu marketing., é a base da minha apresentação de hoje.
A força motriz por trás desta mudança é a internet, que ao longo da última década passou de um lugar onde as pessoas vão procurar informação a um lugar para criar, publicar e partilhar conteúdo online.
A nossa sociedade tem sofrido uma mudança sócio-cultural, com as audiências a deixarem de ser consumidores passivos e a tornarem-se participantes activos que querem ter algo a dizer.
Nesta nova realidade, as instituições culturais tiveram que ir mais além das tradicionais campanhas de publicidade e contar com os comentários positivos de alguns respeitados críticos. Afinal de contas, toda a gente tem agora o poder de ser um crítico com a capacidade de partilhar as suas opiniões com potencialmente milhões de pessoas através dos sites populares de média social como o Facebook e o Twitter.
Os consumidores culturais da actualidade, são talvez mais informados do que nunca e com esta mudança, as artes movem-se da publicidade não segmentada para incidirem na participação e na partilha.
1 Adoptar o Social
O Facebook é a rede social mais popular no Reino Unido, com uma base de utilizadores estimada em 24 milhões e o ponto de partida para muitas instituições tem sido a criação de páginas neste site.
Levar conteúdos artísticos para um espaço onde muitas pessoas passam o seu tempo é algo que faz todo o sentido.
A grande maioria dos espaços artísticos do Reino Unido estão presentes no Facebook, e o TATE é talvez o mais bem-sucedido uma vez que conta com mais de 140.000 utilizadores do Facebook que escolheram demonstrar a sua afiliação com a galeria.
Uma das vantagens em levar uma instituição como a TATE para o Facebook é que permite aos utilizadores deste site interagir com ela a um nível que simplesmente não acontece num site tradicional. Por exemplo, o conteúdo publicado na página da TATE no Facebook recebe mais de 100 comentários dos membros do público.
A outra maior plataforma de média social no Reino Unido é o Twitter. A TATE também está muito activa neste site, com mais de 246,000 pessoas que se registam para subscrever as notícias da galeria através deste site. Isto faz com que a TATE seja a marca Britância mais popular no Twitter.
O marketing para o público das artes realizado através do Facebook e do Twitter é muito diferente da publicidade tradicional. As pessoas passam muito tempo nestes espaços digitais e não são muito receptivas ao fluxo de mensagens de vendas. Em vez disso, as organizações artísticas necessitam de construir relações e reconhecimento da marca, confiantes do facto que a pesquisa demonstra que todos aqueles que escolhem ser afiliados com uma marca numa rede social têm mais probabilidade de gastar dinheiro com a respectiva marca.
A TATE conseguiu atravessar esta linha tênue entre construir uma comunidade e vender o seu produto extraordinariamente bem, enquanto os descontos aplicados aos seus fãs no Facebook provaram ser uma estratégia de sucesso para criar vendas mensuráveis de bilhetes.
2. Iniciar conversações
Enquanto manter conversações envolventes é fundamental para as redes sociais, nós estamos a verificar um aumento do desejo dos consumidores culturais para colocar isto em prática nos sites das instituições de artes.
Em resposta, os museus estão a modificar a sua abordagem relativamente aos sites, não como lugares onde encontrar informação mas lugares onde viver experiência sociais mais personalizadas e envolventes.
Um destes exemplos é o Yorkshire’s Favourite Paintings, um site que reúne colecções de mais de 24 galerias de arte e museus. Como uma colecção tradicional, esta disponibiliza informação sobre as peças de arte e os artistas que as pintaram, porém a premissa base deste site é pedir ao público a sua opinião.
O público é encorajado com o incentivo de ganhar uma réplica da pintura ou como o site promete - “Fale-nos acerca da sua pintura favorita e você pode levá-la consigo para casa”.
Enquanto o Museu considerava tipicamente o valor conferido pelo curador ou pelo crítico de arte em relação a um quadro, este site reconhece que as audiências também têm uma opinião relativamente à arte.
Um quadro pode ser escolhido por várias pessoas como seu favorito, e cada pessoa tem a sua própria história ou visão quanto ao que a obra de arte significa para si. Muitas vezes estas histórias são bastante pessoais. Por exemplo, um participante pessoa escreveu que a sua avó lhe dissera que uma das peças era um retrato dela quando nova, algo no qual ele não acreditou até que ela lhe mostrou uma fotografia, e por isso ele agora desejava ganhar uma cópias do quadro para dar à avó.
As histórias permitem às pessoas ter um ponto de partida diferente ao abordar a arte e as galerias. As opiniões podem diferir das dos curadores mas são igualmente válidas.
O site gerou uma animação positiva nas galerias que possuem os 100 quadros em destaque no site. Talvez a resposta perfeita seja a que chegou de um utilizador do Twitter chamado @fletchthemonkey: ‘Estou maravilha com a qualidade dos quadros exibidos no @YorkshiresFav. Acho que os planos para o fim-de-semana foram revistos para ir ver alguns deles!
Outro exemplo de uma organização de artes que transporta para o seu site as lições aprendidas com a web social é o National Theatre Wales, uma organização fundada em 2008.
Talvez porque o teatro nasceu no meio da revolução dos média sociais, tem colocado enfâse na construção de uma comunidade de produtores e fazedores de teatro que juntos podem criar performances que mudam a forma como olhamos o mundo.
O site do National Theatre Wales é a plataforma para realizar este intercâmbio, uma rede social com mais de 2,500 pessoas que têm ajudado a moldar tudo, desde a produção individual à direcção da organização como um todo.
O National Theatre Wales declara que o teatro sempre foi acerca de criar relações com as audiências e não apenas vender bilhetes. Ao formar uma comunidade à volta do seu trabalho, estão a encorajar conversações sobre esse mesmo trabalho e a criar um sentimento de pertença, propriedade ou afiliação com a organização.
Este tipo de boca-a-boca positivo é incrivelmente poderoso. Isso porque a recomendação pessoa sempre foi mais eficaz que a publicidade tradicional e porque os média sociais exaltam estas mensagens aos transmiti-las para inúmeras pessoas.
3. Crowdsouring
A Royal Opera House não é talvez o lugar mais óbvio para encontrar usos inovadores da tecnologia, é talvez uma das instituições de arte mais tradicionais em Londres.
No entanto, em 2009, a Royal Opera House usou o Twitter para pedir aos membros do público que os ajudassem a compor um novo libreto, através de tweets com 140 caracteres, - a chamada Twitter Opera.
Esta não era uma tentativa realmente séria para criar uma obra-prima mas sim um exercício para chegar às pessoas que acreditam que a ópera não é para elas.
A Twitter Opera atraiu a imaginação dos membros do público, 900 dos quais fizeram sugestões para a peça final entusiasticamente. As sugestões foram trabalhadas por compositores profissionais, originando uma produção de 20 minutos apresentada na Royal Opera House.
Enquanto os críticos apontaram as suas armas à produção, o resultado final recebeu críticas positivas sendo inclusive descrita por um colunista de jornal como sendo “realmente bastante boa de ver, ouvir e engraçada”.
A iniciativa atraiu muita atenção por parte da imprensa, gerando publicidade para a organização não só no Reino Unido como também fora, e juntamento com o alarido online levou 1000 pessoas à Royal Opera House para assistir a quatro actuações.
Esta ideia de co-produção artística com membros do público foi abraçada por um grande leque de instituições ao levar esta arte do palco para o museu, fazendo com que estes locais deixassem de ser apenas sítios onde se vê arte para passarem a ser plataformas de criatividade.
Isto satisfaz as expectativas e desejos de mudança das audiências Britânicas que querem cada vez mais experiências participativas.
Um projecto de artes que levou isto ao extremo foi uma exposição chamada Democracy (Democracia) realizada no norte da Inglaterra, em 2009.
Este projecto tinha como objectivo criar a exposição mais democrática no mundo. Não se pediu apenas que os membros do público apresenta-se obras de arte através do concurso aberto para inscrições mas também que seleccionassem através de votação online, quais as que deveriam ser exibidas.
340 Obras de arte foram submetidas através do site ao longo de um período de cinco semanas e as 50 peças mais populares foram expostas numa galeria.
A competição para ganhar votos suficientes para a exibição, fez com que cada participante começasse a fazer o marketing da exposição à sua rede de amigos, espalhando a palavra viralmente através do Facebook e do Twitter.
Estas duas redes sociais foram responsáveis por enviar mais de 5000 visitantes para o site do Democracy, ao longo das cinco semanas do decorrer do projecto, tornando-se assim numa fonte importante de publicidade para a exposição.
Na galeria, este conceito de Democracia foi continuado ao realizar a projecção digital de cinquenta obras de arte nas quais os visitantes podiam votar e escolher as suas obras de arte favoritas a partir dos seus telemóveis. Um voto faria crescer o favoritismo numa dada obra de arte e diminuiria o das restantes, fazendo com que a exposição melhorasse aos olhos do público à medida que ia passando o tempo (isto é, o público tinha o papel de curador). Este formato de exposição em constante movimento encorajou os visitantes a voltar repetidamente à galeria.
Crowdsourcing é uma tendência particularmente popular entre as instituições de arte do Reino Unido e muitas estão a usar esta abordagem para chegar até às suas audiências através do apelo ao seu lado criativo. Esta tendência não mostra sinais de desaparecer, apesar da ideia de que uma exposição avaliada e votada pelo público é “estupidificante”.
4. Nos bastidores
Enquanto as audiências lutam para encontrar tempo para assistir a eventos artísticos, a tecnologia vai permitindo que as organizações artísticas encontrem novas formas de se encaixarem nas ocupadas agendas das pessoas.
Em Maio de 2010 o Museum of London lançou uma aplicação grátis para iPhone que permite a qualquer pessoa experienciar um pedaço da história em mais de 200 locais de Londres.
Ao olhar para o visor do seu iPhone é possível sobrepor momentos históricos em cenários dos dias de hoje. Estes podem ser vistos como alinhamentos fantasmagóricos, ou as imagens arquivadas podem ser exibidas e exploradas em detalhe, juntamente com informações acerca das pinturas ou fotografias do Streetmuseum.
A app em si é uma ferramenta de marketing lançada pouco antes da abertura de novas galerias do museu, atraiu uma grande quantidade de publicidade grátis e as suas características foram amplamente apresentadas em vários jornais Britânicos.
Eu acredito que a app funciona realmente ao tornar o Museum of London muito mais acessível para uma audiência que tradicionalmente não visita um museu ao ser confrontada com os esmagadores programas culturais que Londres tem para oferecer.
Outra iniciativa artística no Reino Unido que está a usar a tecnologia moderna para chegar a novas audiências é o National Theatre Live. Transmite teatro em tempo real para salas de cinema em todo o mundo.
Em 25 de Junho de 2009, a primeira destas transmissões levou a produção de Nicholas Hytner, Racine’s Phèdre, a cerca de 70 cinemas digitais em todo o Reino Unido a uma audiência composta por 14,000 pessoas e outras 14,000 assistiram ao vivo no resto da Europa e na América do Norte. Os números finais em termos de audiências, só nesta actuação, estão estimados em cerca de 50,000 pessoas.
Uma pesquisa levada a cabo no Reino Unido pelo National Theatre apurou que o NTLive conseguiu alcançar novas audiências. A maioria das pessoas que assistiram às sessões descobriram-nas através dos cinemas que exibem as produções, indicando que o National Theatre estava a conseguir ganhar público do cinema em vez de perder o seu próprio através desta alternativa de baixo custo.
De facto, 33.9% das pessoas que assistiu à produção no cinema afirmou que ver uma sessão do NTLive as tinha encorajado a assistir à produção no National Theatre.
Muitas outras insituições de arte do Reino Unido estão também a desenvolver novas formas de envolver as audiências através da tecnologia, sendo as aplicações para iPhone as mais populares para alcançar este objectivo.
Muitas, tal como a NTLive, estão a descobrir não só novas formas de chegar às audiência como também estão a descobrir novas fontes de receitas que ajudam a financiar as suas actividades principais.
5. Colaboração
No mesmo dia em que foi publicada A Journey, as memórias do ex-primeiro ministro do Reino Unido, Tony Blair A Journey, causaram controvérsia e reacções por parte dos média, a discussão de um outro tema ocupava totalmente o topo dos gráficos das tendências no Twitter.
Um evento de um dia, chamado de Pergunte a um Curador, aproveitou o poder da rede de museus e galerias no Twitter para gerar um diálogo global entre membros do público e curadores.
340 Curadores de instituições de todo o mundo, participaram num evento que teria sido impossível antes do advento da tecnologia dos média sociais. Mais de 10,000 mensagens foram trocadas entre museus e membros do público ao longo do 1 de Setembro de 2010.
Ao trabalharem juntos, estes museus e galerias foram capazes de se projectarem acima do ruído das redes de média social e serem notados quer pela imprensa que agarrou na história em todo o mundo, e pelo público que em muitos casos foi surpreendido pelo facto de instituições percepcionadas como sendo “enfadonhas” abrirem as suas portas no Twitter para a colocação de questões.
Um membro do público comentou: “Pelo menos, os museus estão a fazer alguma coisa realmente útil com o Twitter, em vez de me enviarem apenas mensagens de marketing”.
No entanto, Pergunte a um Curador foi uma campanha de marketing muitíssimo eficaz. Numa análise realizada, a maioria das pessoas que colocou questões afirmou ter intenção em visitar os museus que lhes responderam.
O sucesso de Pergunte a um Curador, já foi emulado por vários grupos, tais como o Pergunte ao Shakespeare, Pergunte a um Maestro desde Setembro, provando que este tipo de colaboração pode funcionar em várias formas de expressão artística.
Night Less Ordinary é outro dos projectos que reúne vários espaços artísticos para alcançar novos públicos, neste caso jovens que nunca visitaram um teatro.
Desde Fevereiro de 2009, esta iniciativa financiada pelo governo tem oferecido bilhetes grátis a pessoas com menos de 26 anos, para mais de 200 teatros em toda a Inglaterra, baseado na premissa básica de que o custo é uma barreira importante que impede este grupo de ir ao teatro.
Os jovens registaram-se para receber bilhetes grátis a partir do site, reunindo actuações de toda a Inglaterra num site muito fácil de usar.
Esta iniciativa já ofereceu mais de meio milhão de bilhetes de teatro e adicionou esses nomes às listas de distribuição dos teatros participantes.
78% dos jovens entrevistados disseram que era muito mais provável voltarem a um teatro após assistirem a uma actuação grátis.
O tipo de abordagem colaborativa usada em Pergunte a um Curador e em A Night Less Ordinary, está a tornar-se na forma normal de operar das organizações de artes Britânicas, acelerada talvez pela recente recessão financeira.
As organizações artísticas estão a mostrar que ao trabalhar em parceria podem fazer com que a sua voz seja ouvida num mundo inundado por mensagens de marketing.
6. Gamification
Outra tendência que parece estar a descolar nos museus do Reino Unido é a gamification, isto é, usar os jogos e o aspecto lúdico para chegar até aos públicos que acreditam que as artes não são para eles.
Há toda uma nova geração de jovens que foram educados com jogos de computador; isto coloca problemas e oportunidades para as artes.
Um jogador de jogos de computador é um protagonista colocado no centro de uma história e esta é a maneira cada vez mais preferida dos jovens para aprender. Porém, isso é bem diferente da experiência que se tem quando se visita um museu ou se senta num teatro.
No entanto, a tecnologia está a oferecer respostas através de apps para telemóveis, transformando museus em tabuleiros de xadrez, oferecendo uma experiência que é talvez mais atractiva para os jovens e que é uma ferramenta educativa que encoraja este grupo (tão difícil de alcançar) a aprender sobre arte.
TATE Trumps é um destes exemplos. Este jogo é baseado no Top Trumps, popular jogo infantil e é jogado no TATE Modern a partir de um iPhone.
Os jogadores são encarregados de percorrer a galeria para coleccionar sete obras de arte que acreditam que vão vencer as recolhidas pelos seus amigos, para finalmente se reunirem para a batalha.
Eu acho que este é um exemplo excelente de um museu que utiliza uma app para iPhone como ferramenta de marketing, estendendo uma experiência cultural a um grupo de pessoas que acha que a arte não é para elas.
Neste momento, os jogos parecem ser uma tendência incrivelmente popular no sector dos museus.
Conclusão…
Esta é apenas uma análise breve de como as artes no Reino Unido estão a usar a tecnologia para chegar até às audiências em evolução. Aqueles que inovam estão a prosperar, enquanto aqueles que se recusam a mudar perdem cada vez maior contacto com a realidade.